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Trazendo o BL para a luz, "Semantic Error" marca uma grande mudança nas histórias LGBTQ nas telas coreanas.
À medida que o “boys love” emerge das sombras, está evoluindo para um estilo voltado para um público mais amplo - talvez servindo como ponto inicial para uma eventual flexibilização de preconceitos sociais.
Qual é a principal série romântica da TV coreana em 2022?
Esse tipo de pergunta é algo que devemos ter feito por volta de dezembro. Ainda há 9 meses restantes em 2022. Mas a resposta já é clara: “Semantic Error” é o drama que mais animou as comunidades online.
Indo direto ao ponto, “Semantic Error” é um drama controverso que estabeleceu um novo estilo no restrito mundo dos dramas de romance coreanos.
Qualquer um que tenha assistido o drama pode pensar que estou fazendo alvoroço, mas cale-se. Você e eu sabemos o quanto ao drama te surpreendeu enquanto assistia – bem como os seguidores da sua rede social privada que você gerencia sob um pseudônimo.
“Semantic Error” é o primeiro drama original da plataforma de streaming sul-coreana Watcha.
É assim com os serviços de streaming: 10 mil won por mês não pesam muito no orçamento. Mas nos últimos anos teve início uma revolução no streaming- e com isso um aumento no número de serviços que exigem uma assinatura á parte.
No meu caso, atualmente, assino Netflix, Disney+, Apple TV+ e os serviços de streaming sul-coreanos Tving e Watcha. Não tenho muito o que fazer sobre isso, já que trabalho escrevendo sobre mídia.
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Você provavelmente está em uma situação diferente. Você ainda hesita sobre a necessidade de assinar tantos serviços diferentes. Se você pensar que até suas taxas KBS são um desperdício de dinheiro, você não vai querer se tornar um assinante do Watcha.
Então você deveria assinar? Isso é algo pra se decidir ao fim da leitura.
Que tipo de drama é “Semantic Error”? É um drama BL coreano, baseado em uma web novel de uma autora conhecida como “Jeosuri” que também possui uma adaptação em webtoon. BL é a abreviação de Boys Love - um estilo focado em romances entre homens.
A história de “Semantic Error” é bem simples. Chu Sangwoo (interpretado por Park Jaechan) é um estudante de ciência da computação que vê tudo com uma visão lógica. Ele de repente se vê em um confronto com Jang Jaeyoung (Park Seoham), um estudante de design que é diferente dele em absolutamente tudo.
Para Sangwoo, Jaeyoung é um “erro semântico” - um termo usado na computação que se refere á uma falha lógica. Eles dois se enfrentam e brigam antes de finalmente se apaixonar um pelo outro.
Neste ponto, você deve estar se perguntando outra coisa. Por muito tempo, nós ouvimos sobre esse gênero como “cinema queer”. Talvez você esteja se perguntando por que “Semantic Error” é categorizado como “drama BL” em vez de “queer”.
O conceito de “BL” começou no Japão. Anteriormente chamado pelo termo um tanto pejorativo “yaoi”, passava longe das narrativas queer criadas pelas próprias pessoas LGBTQ.
Tudo isso começou com “JUNE”, uma revista de desenhos animados publicada desde 1978. Tradicionalmente, se trata de uma fantasia erótica voltada para uma parcela de um público formado em sua maioria por mulheres.
A maioria das histórias BL não incluem nenhuma das realidades encaradas pelas pessoas LGBTQ. Em vez disso, retratam histórias românticas de personagens masculinos estilizados cedendo aos seus desejos sexuais.
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Durante os anos 90, o BL teve um aumento explosivo. Nos meados da década houve uma enxurrada de BLs pirata surgindo da Coreia do Sul, começando com “Zetsuai” (1989) da lendária Minami Ozaki.
Eu me lembro de tê-lo lido secretamente no canto da loja de quadrinhos, me certificando de que ninguém visse a capa, é claro.
O BL dos anos 2000 e os atuais são diferentes. Enquanto no início o BL era considerado algo sombrio, o BL de hoje está se tornando cada vez mais brilhante.
Autores japoneses populares de BL, como Fumi Yoshinaga, alcançaram grandes feitos por incorporar narrativas queer mais realistas. Os maiores trabalhos de Yoshinaga incluem “Antique Bakery” (1999) que foi adaptado em um filme coreano chamado “Antique”, e “What did you eat yesterday?” (2007), um drama que está atualmente disponível no Watcha.
“New York New York” (1995) é a obra-prima de Marimo Rgawa, uma combinação quase perfeita de BL e narrativa queer realista.
Os filmes queer começaram a surgir na Coréia do Sul por volta da mesma época em que o BL japonês começou a ganhar visibilidade. A onda deve ter começado em 2006 com “No Regret” do diretor Lee-Song Hee-il. Curiosamente, os fãs mais apaixonados por “ No Regret” consistia em aficionados por BL.
Desde então, o BL foi além da fantasia erótica para se fundir com narrativas queer mais sérias. Não parece mais ser possível aplicar quaisquer distinções entre “BL” e “queer.”
Você talvez não esteja interessado em BL, é claro. A maioria das histórias BL omite todo preconceito e ódio que as pessoas LGBTQ realmente suportam. Aqueles que desejam ver narrativas queer mais sérias talvez ainda se sintam desconfortáveis com o gênero.
Mas para tornar as narrativas queer populares, nós ainda precisamos do tipo de fantasias as quais a maioria das pessoas se sente confortável em assistir.
Em 2010, “Life is Beautiful” (2010) do autor (ou autora) Kim Soo-hyun se tornou a primeira série de TV sul-coreana a apresentar um romance envolvendo um casal gay. Mas também teve uma dose de realidade, pois os personagens tinham medo de serem descobertos.
“Semantic Error” é diferente. Quase não há medo da “exposição.”
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Também há ausência da quantidade de sexo que esteve muito presente na web novel original. Em várias entrevistas, a diretora Kim Soo-Jung explicou que “tentou fazer uma visão mais leve para as pessoas que estão tendo seu primeiro contato com o BL.” O programa se mantém firme na fantasia do romance universitário fofo.
E isso é algo tão ruim? Conforme o BL emergiu das sombras, evoluiu para um gênero orientado para um público mais amplo. E essa evolução pode ser interessante a partir do momento que pode ajudar a flexibilizar certos preconceitos sociais.
Em 2015, a série da JTBC “Schoolgirl Detectives” recebeu uma ação disciplinar da KCSC (sigla em inglês para Comissão Coreana de Padrões de Comunicação) por incluir um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. O web drama com tema lésbico “Lily Fever” também recebeu uma “ação corretiva” solicitada pela KCSC em 2016 por “violar costumes decentes e a ordem social.”
Apenas 6 anos depois, nós podemos assistir uma série que inclui cenas de beijo entre pessoas do mesmo sexo sem ser penalizada por isso. Isso anuncia uma transformação maior do que poderíamos ter previsto.
Ao mesmo tempo, o país de origem do BL, o Japão, está passando pelo que pode ser chamada de “Revolução BL”.
“Ossan´s Love” (2018) que foi ao ar pela TV Asashi, foi um sucesso sem precedentes para séries BL, assim como programas posteriores como “Cherry Magic” (2020). Hoje a Coréia do Sul parece seguir os passos do Japão com adaptações “leves” de filmes e séries de TV de histórias BL.
Para qualquer um que esteja pensando em assinar o Watcha e assistir “Semantic Error” depois de ler este artigo, eu devo destacar que a série não é a melhor obra. Está mais próxima de uma série online de baixo orçamento, feita para lucrar em um nicho de mercado por um serviço de streaming sul-coreano que não tem recursos para bater de frente com o conteúdo disponibilizado por plataformas internacionais, como a Netflix.
Mas o sucesso de “Semantic Error” tem sido monumental no sentido de que abriu esse nicho no mercado- que só deve crescer daqui pra frente. O mercado está prestes a ficar muito maior.
Eu me arrisco a dizer que em breve nós vermos séries BL não somente em serviços de streaming, mas também nas TV´s a cabo e aberta. Para o mundo das minisséries Sul-coreanas, o programa foi um belo “erro.”
Tradução por Semantic Error Brasil
13/04/2022
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